Bruno Moreira de Carvalhoa Letícia Palazzi Perezb Beatriz Fátima Alves de Oliveirac Ludmilla da Silva Viana Jacobsond Marco Aurélio Hortae Andréa Sobralf Sandra de Souza Hacong
Sustainability in Debate / Sustentabilidade em Debate
v. 11, n.3, p. 383-404, dez/2020
10.18472/SustDeb.v11n3.2020.33985
RESUMO
As mudanças climáticas afetam a saúde humana direta ou indiretamente, e seus impactos são complexos, não lineares e dependentes de diversas variáveis. Entre os diversos impactos das mudanças climáticas na saúde estão a alteração na distribuição espacial de doenças transmitidas por vetores. Nesse sentido, o presente estudo apresenta e discute mudanças na distribuição espacial da adequabilidade climática para leishmaniose visceral, febre amarela e malária no Brasil, em diferentes cenários de aquecimento global. Para a construção dos modelos de adequabilidade climática nos cenários de aquecimento, foi utilizado o algoritmo de máxima entropia (MaxEnt). Os modelos foram baseados em variáveis climáticas geradas pelo modelo climático regionalizado Eta-HadGEM2 ES, no período baseline (1965- 2005) e no cenário RCP 8.5, representando os níveis de aquecimento global de 1,5oC (2011-2040), 2,0oC (2041-2070) e 4,0oC (2071-2099). As três doenças estudadas são amplamente influenciadas pelo clima e apresentaram diferentes padrões de distribuição no País. Em cenários de aquecimento global, a leishmaniose visceral apresentou condições climáticas mais favoráveis à sua ocorrência nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, enquanto o clima nas regiões Norte e Centro-Oeste se tornou gradativamente mais adequado para febre amarela. Nos cenários para malária foi observado aumento nas condições climáticas favoráveis à sua alta incidência na Mata Atlântica, onde atualmente ocorrem casos extra- amazônicos. Os cenários aqui apresentados representam diferentes consequências possíveis para o setor de saúde e da adoção ou não de diferentes medidas para mitigar as mudanças climáticas no Brasil, como a redução da emissão de gases de efeito estufa.
ABSTRACT
Climate change affects human health either directly or indirectly, and related impacts are complex, non-linear, and depend on several variables. The various climate change impacts on health include a change in the spatial distribution of vector-borne diseases. In this regard, this study presents and discusses changes in the spatial distribution of climate suitability for visceral leishmaniasis, yellow fever and malaria in Brazil, in different global warming scenarios. Maximum entropy (MaxEnt) was used to construct climate suitability models in warming scenarios. Models were based in climate variables generated by the Eta-HadGEM2 ES regional model, in the baseline period 1965-2005 and RCP8.5 scenario, representing global warming levels of 1,5oC (2011-2040), 2,0oC (2041-2070) and 4,0oC (2071- 2099). The three diseases studied are largely influenced by climate and showed different distribution patterns within the country. In global warming scenarios, visceral leishmaniasis found more favorable climate conditions in the Southeastern and Southern regions of Brazil, while climate in the Northern and Center-West regions gradually became more favorable to yellow fever. In malaria scenarios, an increase in favorable climate conditions to its high incidence was observed in the Atlantic Forest, where currently extra-Amazonian cases occur. The scenarios presented herein represent different possible consequences for the health sector in terms of adopting (or not) different measures to mitigate climate change in Brazil, such as reducing the emission of greenhouse gases.