Artigo publicado na edição de 10 de março da Nature Geoscience sugere que a floresta pode ser mais resiliente às mudanças climáticas induzidas pelo aumento das emissões de CO2 do que sugerem alguns estudos anteriores. No entanto, ainda permanecem incertezas significativas na forma como a limitação de nutrientes e a aclimatação podem afetar a floresta em um mundo em aquecimento. O estudo tem como coautores os pesquisadores do INPE José Marengo e Carlos Nobre e é resultado de uma colaboração entre o Instituto o Reino Unido (Universidade de Oxford, UK Met Office, Center for Ecology and Hydrology e Universidade de Exeter, entre outras).
As alterações de estoques de carbono das florestas tropicais, em resposta às mudanças do clima e à composição atmosférica ainda são incertas. Entretanto, a avaliação do potencial de perda futura de carbono é
importante para balizar a eficácia dos programas de redução de emissões por desmatamento e degradação.
O artigo “Simulated resilience of tropical rainforests to CO2-induced climate change” (Resiliência simulada das florestas tropicais às mudanças climáticas induzidas pela emissão de CO2) relata a utilização de simulações com 22 modelos climáticos e ecológicos e a descoberta de que apenas uma delas apresenta projeção de perda de biomassa pelas florestas tropicais no final do século 21. Foram analisadas as três principais regiões de floresta tropical: as Américas (América Central e a Bacia Amazônica), África e Ásia.
“Os resultados sugerem que a possibilidade de haver um colapso da floresta amazônica no futuro, devido ao aumento de CO2 é menor do que o anteriormente demonstrado”, afirma José Marengo. “De fato, as florestas poderiam perder parte do estoque de carbono, mas isso não levaria a um processo de colapso ou savanização, ou seja a floresta amazônica mostraria resiliência às mudanças climáticas”.
As florestas tropicais armazenam aproximadamente 470 bilhões de toneladas de carbono em sua biomassa e solo, são responsáveis por cerca de um terço da produtividade primária terrestre global, regulam a meteorologia local e abrigam uma enorme biodiversidade.
Análises anteriores têm investigado a potencial vulnerabilidade das florestas tropicais em relação às alterações climáticas. Alguns, com base em projeções futuras pelo modelo climático HadCM3 EM 2000, por exemplo, sugerem que a mudança climática induzida por ações humanas poderia causar perdas catastróficas de cobertura florestal e de biomassa em toda a Amazônia.
“Estes resultados ainda apresentam incertezas, pois ainda que os modelos climáticos e ecológicos utilizados sejam de última geração, representando melhor a interação vegetação-atmosfera, existem processos ainda não bem conhecidos que podem não estar bem representados nos modelos, como a assimilação de nutrientes, por exemplo”, explica o pesquisador.
Marengo ressalva também que é preciso cautela na abordagem da questão da Amazônia. “Um desmatamento crescente, ou aumento da concentração de gases de efeito estufa pode afetar, sim a floresta no futuro. Por isso, é indispensável se pensar em medidas de mitigação (redução do desflorestamento e das emissões) para não se criar um ambiente favorável à potencial perda da floresta amazônica”.