No início deste ano foi publicado o artigo “Numerical assessment of tidal potential energy in the Brazilian Equatorial Shelf”, o qual foi produto da pesquisa de pós-doutorado do Dr. Alessandro Aguiar, atualmente Professor Adjunto da UERJ no Departamento de Oceanografia Física e Meteorologia da FAOC/UERJ. A pesquisa foi realizada durante o seu pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da UERJ e financiada com recursos no CNPq através da Rede Clima. Além disso, foi fundamental para a realização dessa pesquisa o apoio dos pesquisadores Dr. Martinho Marta-Almeida (Centro Oceanográfico de A. Coruña, Espanha), Profa. Dra. Letícia Cotrim da Cunha (UERJ/Rede Clima), Prof. Dr. Mauro Cirano (UFRJ) e Profa. Dra. Janini Pereira (UFBA).
O estudo investiga o potencial de geração de energia maremotriz por meio de barragens de maré na Plataforma Equatorial Brasileira (BES), uma das regiões de macromarés do mundo.
O estudo foi baseado em modelagem numérica regional e foi avaliado o desempenho de barragens hipotéticas propostas para a região. Para isso, foi utilizada uma configuração numérica de alta resolução do modelo oceânico ROMS (Regional Ocean Modeling System) forçado com forçamento superficial e lateral realista, bem como com marés e descargas fluviais. Alturas de maré superiores a 2 m foram observadas em três regiões do BES devido à grande amplificação de marés através dos canais estuarinos dentro de cada região: Amazônia, Pará e Maranhão, e por uma fração de tempo considerável. Alturas entre 4 e 5 m ocorreram com frequência superior a 20%–30% em algumas regiões.
Todas as barragens hipotéticas propostas neste estudo foram capazes de uma produção anual de energia, em modo bidirecional (geração durante a enchente e vazante), superior a La Rance (533 GWh/ano, operação bidirecional, França) e Sihwa (553 GWh/ano, geração somente durante a enchente, Coreia do Sul), exceto uma com a mesma produção da barragem de Sihwa. O esforço de instalação foi avaliado através da razão de Gibrat, relação entre o comprimento da barragem e sua produção anual de energia. Entre as barragens propostas, as mais eficientes têm uma geração anual de energia superior a 1500 GWh/ano e uma razão de Gibrat entre 1,17 e 3,26, muito inferior à razão de Gibrat da barragem de marés de Sihwa.
Portanto, os resultados indicam que a Plataforma Equatorial Brasileira é um manancial de energia renovável a ser explorado. Urge investigar e desenvolver vias de produção de energia limpa em substituição das fontes de energia não-renováveis para que possamos atingir uma autossuficiência energética sustentável e com o menor impacto no ambiente.
Referência: Aguiar, A.; Marta-Almeida, M.; Cirano, M.; Pereira, J.; Cotrim da Cunha (2024). Numerical assessment of tidal potential energy in the Brazilian Equatorial Shelf. Renewable Energy, 220 https://doi.org/10.1016/j.renene.2023.119684