PREVISÃO CLIMÁTICA SAZONAL DO MCTIC
Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal – GTPCS/MCTIC
Responsável Científico desta Edição: Dr. Carlos Nobre – Presidente do GTPCS/MCTIC
Boletim em PDF: GTPCS_Nota24_27072016
Resumo das Atuais Condições Climáticas
A primeira quinzena de junho apresentou um acentuado declínio das temperaturas no centro-sul e oeste do Brasil, com ocorrência do fenômeno de friagem no sul da Amazônia e geada forte em vários de municípios das Regiões Sul e Sudeste. Destacaram-se, também, os expressivos volumes de chuva no centro-sul da Região Sudeste se comparados à climatologia do período, como resultado da atividade frontal e da passagem de perturbações na média e alta troposfera. Por outro lado, o déficit de chuva foi acentuado no norte da Região Norte, no leste da Região da Nordeste (Zona da Mata) – que ainda se encontra no seu período mais chuvoso – e em grande parte da Região Sul. No sudoeste da Amazônia, destacou-se a situação do rio Acre, que, devido às chuvas significativamente abaixo da média nos últimos seis meses, encontra-se com cotas e vazões próximas do mínimo histórico e muito mais cedo no ano em relação ao regime hidrológico. A intensa seca na Amazônia, que se prolonga desde o final de 2015, relacionada primordialmente ao intenso fenômeno El Niño que terminou em maio último – que também resultou em déficits de umidade do solo, temperaturas acima da média (nesta época de estiagem) e baixa umidade relativa do ar – aumentou consideravelmente o risco de queimadas e incêndios de vegetação. Em julho de 2016, o número de queimadas foi significativamente acima da média. As atuais condições mostram uma situação de neutralidade na região equatorial do Oceano Pacífico Equatorial, no que se refere ao fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), com o declínio do Índice Oceânico Niño (ONI) para 0,7°C no último trimestre (AMJ), e uma transição para a condição de La Niña. No Atlântico Tropical, as atuais condições também são de neutralidade em relação às anomalias da temperatura ao norte e ao sul do Equador, o que tem sido consistente com a atuação da Zona de Convergência Intertropical em torno de sua posição climatológica.
Previsão Climática para o Trimestre ASO/2016
A previsão climática sazonal por consenso para o trimestre agosto, setembro e outubro de 2016 (ASO/2016) indica maior probabilidade do total trimestral de chuva ocorrer na categoria dentro da faixa normal climatológica no extremo norte da Região Norte, ficando a segunda maior probabilidade na categoria abaixo da faixa normal, com a seguinte distribuição: 25%, 40% e 35% para as categorias acima, dentro e abaixo da faixa normal climatológica, respectivamente. As demais áreas do País (área cinza do mapa) apresentam baixa previsibilidade neste trimestre ou se encontram em seu período de estiagem, o que implica igual probabilidade para as três categorias. É importante mencionar que, climatologicamente, agosto é o último mês do principal período chuvoso para o leste da Região Nordeste, mas esta região encontra-se sob influência de subsidência de grande escala e não há indicações de que este quadro possa ser alterado em agosto próximo, o que significa um período chuvoso principal de abril a agosto significativamente deficitário, impactando a disponibilidade hídrica da Zona da Mata, que já está bem abaixo da média para esta época do ano, decorrente de vários anos com chuvas abaixo da média histórica. O período de estiagem esperado, do ponto de vista climatológico, para o sudoeste da Amazônia nos dois próximos meses, com baixos índices pluviométricos, indica que o rio Acre poderá atingir seu mais baixo nível histórico (cotas entre 1,20 m e 1,30 m), se comparado com o mínimo extremo histórico (1,51 m), com significativo impacto na navegação regional e mesmo em sistemas de abastecimento de comunidades ribeirinhas. As queimadas e incêndios de vegetação na grande área central do Brasil e sul e leste da Amazônia, por sua vez, podem ocorrer acima da média para o período agosto a outubro – tradicionalmente quando ocorrem o máximo de queimadas nestas áreas – e mesmo atingir valores máximos históricos, que podem ser mitigados com a implementação de controles de queimadas efetivos no decorrer do referido trimestre. Já para a Região Sul, a distribuição de chuvas no decorrer do referido trimestre pode apresentar grande variabilidade temporal e espacial, o que diminui o grau de previsibilidade para esta área. Este fato, além de estar relacionando à alta variabilidade de escala sinótica em latitudes médias, também se deve às mudanças do padrão atmosférico associadas à transição entre a condição de El Niño (presente até abril) e o provável estabelecimento de um fraco a moderado episódio La Niña nos próximos meses, episódio este que deverá perdurar até o início de 2017, sem atingir alta intensidade. A previsão por consenso também indica maior probabilidade das temperaturas ocorrerem entre normal e acima dos valores normais na maior parte do País.
Esta previsão foi elaborada pelo GTPCS do MCTIC, durante a reunião climática realizada nas dependências do CPTEC, em Cachoeira Paulista-SP, com a participação de pesquisadores e tecnologistas dos seguintes institutos do MCTIC: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; e também de órgãos ligados à área de Meteorologia, Climatologia, Hidrologia e Desastres Naturais. A previsão por consenso é baseada na análise das condições diagnósticas oceânicas e atmosféricas globais e de modelos dinâmicos e estatísticos de previsão climática sazonal fornecidos pelos acima referidos institutos do MCTIC, centros internacionais de previsão climática sazonal e INMET, FUNCEME e ANA. Os dados, análises e previsões climáticas apresentadas e discutidas durante esta reunião, além de outras informações relevantes sobre as condições oceânicas e atmosféricas utilizadas nestas análises e a situação da chuva em todo o Brasil serão disponibilizadas no portal do INPE/CPTEC.