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7 de março de 2013

Brasil deve liderar pesquisas sobre o sistema terrestre no hemisfério sul



O importante papel desempenhado pelo Brasil na área de ciência do sistema terrestre nos trópicos e no hemisfério sul foi destacado pelo pesquisador Guy Brasseur, diretor do Centro de Serviços Climáticos da Alemanha. Ele apresentou a Palestra Magna que abriu o workshop sobre o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na sigla em inglês), realizado hoje (19/02) em São Paulo.

O modelo, que será a contribuição brasileira para o próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR-5), é coordenado pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), os dois últimos sediados no INPE.

Em sua apresentação, Brasseur afirmou que o país tem a função de aprender a lidar com problemas complexos do sistema terrestre, como as interações biosfera-atmosfera, a física de nuvens e a química da atmosfera. “É preciso formar uma nova geração de cientistas para estudar essas questões e responder às necessidades das atividades humanas, atendendo às particularidades do hemisfério sul”, explicou. “Atualmente, dependemos dos modelos do hemisfério norte para desenvolver os cenários”.

O pesquisador ressaltou ainda a importância de se criar uma estratégia de transferência do conhecimento sobre o sistema terrestre para a sociedade. “Temos que entender o que está acontecendo, mas temos a responsabilidade de repassar e compartilhar esse conhecimento que é, na verdade, uma coprodução entre vários indivíduos, de diferentes atividades e diferentes disciplinas”.

Para compreender e superar os impactos das mudanças climáticas, a comunidade científica deverá enfrentar quatro grandes desafios, segundo Brasseur: 1) Desenvolver uma previsão numérica de tempo e clima confiável; 2) Conseguir prever as mudanças climáticas; 3) Entender que a Terra é um complexo sistema de interações; 4) Responder às mudanças climáticas globais. “Para isso, são necessários bons modelos. Atualmente, é impossível construir sozinho um modelo climático. É necessário um grande esforço internacional, uma grande rede que permita a integração de modelos por vários séculos, e o Brasil está inserido nesse contexto”.

 

Histórico

Em seguida à Palestra Magna, o pesquisador Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), traçou um breve histórico sobre o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre, do qual foi um dos idealizadores. Ele justificou a opção do Brasil de desenvolver seu próprio modelo climático, ao invés de utilizar os já existentes, como uma estratégia visando o desenvolvimento da ainda pequena comunidade científica nessa área, no país, e a introdução de aspectos mais típicos do hemisfério sul.

O pesquisador Paulo Nobre (Rede CLIMA/INPE), coordenador do projeto do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre, apresentou os principais resultados até o momento, com destaque para a contribuição inédita do Brasil ao próximo relatório do IPCC. Serão apresentados cenários climáticos com projeções computadas por uma versão aprimorada do BESM.
As simulações efetuadas no supercomputador Tupã (Cray XE6), instalado no INPE de Cachoeira Paulista, foram submetidas ao Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados, Fase 5 (CMIP5) para o período que vai de 1960 a 2100. O modelo consegue estabelecer – em intervalos determinados de tempo – a influência das combinações entre temperatura da superfície do mar, intensidade dos ventos, temperatura do ar, precipitação pluviométrica e radiação solar, entre outras variáveis, que permitem prever o impacto das interações oceano-atmosfera sobre a distribuição de chuvas e temperaturas sobre o Brasil e o planeta.
A nova versão do BESM integra a dinâmica de funcionamento do clima na atmosfera e passa a incluir os processos de formação de nuvens; as formações de gelo marinho (fundamentais para o equilíbrio radioativo da atmosfera e determinação da velocidade do aquecimento global); a influência das variações no desenvolvimento da vegetação na América do Sul, agora integrando o conhecimento gerado sobre a Amazônia, como, por exemplo, do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), e as consequências das interações floresta-clima naquela região, cujo efeito regulador do clima global é uma importante contribuição brasileira para os modelos existentes hoje no mundo.

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Da esq. para a dir., Carlos Alexandre Wuensche, chefe de gabinete do INPE; Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp; Reynaldo Victoria, coordenador do Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, e Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – Foto: Eduardo Cesar/Fapesp