O Brasil deverá enfrentar nos próximos anos um novo desafio com o objetivo de limitar suas emissões de gases de efeito estufa. Com os índices de desmatamento controlados – queda de 79% nos últimos dez anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – o país terá que encontrar alternativas para tentar reduzir a participação dos setores agropecuário e energético na conta das emissões.
As queimadas e o desmatamento já foram responsáveis por 58% das emissões brasileiras. Hoje, representam apenas 22%, tendo sido ultrapassados pelas atividades agropecuárias (35%) e pelos processos de geração de energia (32%).
Balanço divulgado pelo Global Carbon Project (Projeto Carbono Global) às vésperas da reunião de cúpula das Nações Unidas realizada em Nova York em 23 de setembro último aponta um aumento de 31,5% nos últimos cinco anos, nas emissões brasileiras de CO2 relativas ao uso de combustíveis fósseis – de 367 milhões de toneladas em 2009 para 482 milhões em 2013. Esse número coloca o país em 12º lugar no ranking mundial dessas emissões e em 1º na América Latina, à frente do México (466 milhões de toneladas) (veja quadro). Nas emissões per capita, o Brasil está em 120º lugar no mundo.
Deve-se ressaltar, entretanto, que as emissões totais do Brasil (incluindo mudança na cobertura do solo, como desmatamento), de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, diminuíram 38% no período de 2005 a 2010.
O Projeto Carbono Global envolve pesquisadores de várias instituições ao redor do mundo e fornece detalhes objetivos na escala das emissões anuais.
Embora o Brasil possua uma matriz energética considerada “limpa”, esta é vulnerável aos extremos climáticos. Um exemplo é a situação que vivemos atualmente, em que o baixo nível dos rios e reservatórios tem inviabilizado a operação das hidroelétricas, obrigando a utilização de termoelétricas – uma energia mais cara e mais poluente. A produção hidroelétrica de energia só pode ser considerada como de baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE) quando o lago da usina geradora inunda uma região com baixo conteúdo de biomassa. Usinas localizadas na região amazônica tendem a emitir altas taxas de gases de efeito estufa, pois a floresta naquela região é bastante densa, e a decomposição desse material produz uma quantidade grande de GEE.
Além de estar atento a essa questão da energia, o Brasil terá que aprimorar cada vez mais as tecnologias que possibilitem ganho de produtividade e eficiência na agricultura e na pecuária. “Já existem projetos desenvolvidos na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e em diversas universidades brasileiras para melhoria da qualidade das pastagens”, afirma o pesquisador Jean Ometto, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE. “As pesquisas buscam não só reduzir a área necessária para o manejo do gado, como também melhorar a digestão do capim pelo animal, diminuindo assim as suas emissões”.
Na área da agricultura, tem se buscado, por exemplo, melhorar a eficiência do uso de fertilizantes e reduzir a queima no plantio de cana-de-açúcar. Outra iniciativa com bons resultados é a produção integrada – lavoura/pecuária/floresta, ou lavoura/pecuária, que aumenta a produtividade por unidade/área. “Quanto mais carbono conseguirmos reter no solo, menores serão as emissões”, explica o pesquisador, que também coordena o subprojeto Ciclos Biogeoquímicos Globais do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, sediado no INPE.
Recorde de emissões no mundo
Os dados divulgados pelo Global Carbon Project revelaram um crescimento de 2,3% do total de emissões em 2013, o que representa 36 bilhões de toneladas de carbono emitidas em todo o planeta – 61% acima do registrado em 1990 (data da assinatura do Protocolo de Quioto). A China continua sendo o país que mais emite (28% do total), seguida pelos Estados Unidos (14%), pela União Europeia (10%) e pela Índia (7,1%).
A justificativa de que, apesar das elevadas emissões, o índice per capita do país era baixo, não pode mais ser usada pela China. Pela primeira vez, o país superou a União Europeia no índice individual. Enquanto a média per capita mundial é de 5 toneladas de dióxido de carbono, a China produz 7,2 toneladas per capita, para 6,8 toneladas da UE. Os EUA ainda estão muito à frente, com 16,5 toneladas per capita. “As emissões da China ainda estão distantes das americanas ou da Austrália (15 toneladas), mas o fato de terem ultrapassado a União Europeia surpreende”, afirmou Robbie Andrew, do Centro Internacional de Pesquisas Climáticas e Ambientais da Noruega, à BBC News.
Os cientistas envolvidos no projeto dizem ainda que os totais globais estão aumentando rapidamente e seguem com a tendência de ultrapassar os limites para uma mudança climática perigosa no prazo de 30 anos (aquecimento global acima de 2°C). Estima-se que as emissões já tenham atingido dois terços do total que poderia manter o aquecimento global dentro desse limite.
Emissões totais na América Latina – 2013, referentes à queima de combustíveis fósseis
Fonte: Global Carbon Project 2013
Emissões per capita na América Latina – 2013 referentes à queima de combustíveis fósseis
Fonte: Global Carbon Project 2013
Os 10 maiores emissores de CO2 por queima de combustíveis fósseis
Fonte: BBC News
Saiba mais
Acesse o Atlas das Emissões Globais – http://www.globalcarbonatlas.org/?q=en/content/welcome-carbon-atlas
Leia repercussão do balanço das emissões na imprensa internacional
New York Times – http://nyti.ms/1wWtZLn
BBC – http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-29239194
The Guardian – http://www.theguardian.com/environment/2014/sep/21/record-co2-emissions-committing-world-to-dangerous-climate-change